02 abril, 2006

Razões pelas quais eu queria ser Thoreau

Eu queria ser Thoreau para viver em uma cabana isolado da sociedade. Tá, tá, eu sei, não sou auto-suficiente para viver sem os confortos da cidade. Mal sei apagar meu fogãozinho à álcool sem provocar um incêndio e uma semana sem energia elétrica me faz sentir um pouco menos humano.

Mas nos sonhos... corto lenha, pesco, planto uma horta e um pomar, caço, faço fogo com pauzinhos. Assim consigo fugir da cidade e suas pessoas, das obrigações sociais e das relações financeiras, de parentesco, de cordialidade, de estética, de hipocrisia. Vivendo de minhas próprias forças... Espero não ser preso por não pagar impostos!

Eu queria ser Thoreau para conseguir não apenas transmitir, mas amplificar minha indignação usando palavras. Na verdade eu queria sentir indignação e não esse rancor resignado que me provocam as instituições sociais mais deterioradas. E quando penso nas formas existentes de protesto, organização e mobilização, eu me desespero ainda mais.

Desespero... Essa palavra é quase sempre associada com histeria, com um último e inarticulado esforço de se ver livre de uma situação ruim. Não, desespero não é isso, é o que vem depois. É a letargia. Saber que não há mais nada à ser feito. É a falta de esperança.

Desespero para mim é assistir todas as novelas todos os dias, saber tudo de todas as celebridades. É esperar na janela do apartamento, por algo para rechear a mente e as conversas. É trabalhar 40 anos num hospital e não querer parar. É dormir cedo para acordar cedo.

E não sentir o peso.