11 novembro, 2005

Velocidade

Ela corre. Os espaços se delineiam fora do escopo da memória ou da consciência. Sente o vento no rosto e nos seios. Cruza o templo de neon sem ser percebida por qualquer olhar. Tudo que importa são as sensações e a velocidade.

Luzes coloridas em vitrines, placas e letreiros se fundem como num caleidoscópio e isso a excita. Ela corre. Vive em um tempo diferente dos demais, uma frequência diferente, mais rápida.

Descobriu que podia fazer isso aos 17 anos, quando voltava da escola a pé e chegou em casa antes de seu irmão que estava de carro. Na época não entendia como aquilo era possível, mas como todos os curiosos logo dominou a prática e o conceito.

A velocidade era a chave, só ela sabia. Quando corria conseguia escapar da frequência padrão, vibrar seus átomos em outra sintonia e como os sons muito agudos, inaudíveis aos ouvidos humanos, ela se tornava invisível aos olhos comuns. Nestes instantes toda a cor era luxúria, todo contato era êxtase!

Hoje ela tem 23 anos, não mora mais com os pais. Alugou um jk no centro da cidade de neon, onde dorme durante o dia. Durante a noite corre.

Corre nua. É uma Barbarella elétrica, explorando a noite com paixão e volúpia. Extremece à cada curva, à cada mudança de direção. Vibra com as luzes, com o toque.

É uma Valentina Borderline, ferindo a noite como um punhal de antimatéria, uma adaga surreal. Não percebe seu encanto, apenas sente a fúria, velocidade, tesão.

E quando a noite acaba e o templo de neon se apaga, ela retorna para o plano cartesiano e dorme.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A sensação de destruir é dolorosa, a dor de ignorar e descobrir...Tarde de mais!!! É como morrer ou desejar este fim.
Olhar pra trás e ver pegadas distantes e um imenso vazio, e depois delas...Eu.
Pegadas ao lado das minhas, bem marcadas e paralelas, mas que de repente se abrem para outro caminho.
Letargia, sonambulismo, cegueira, anulação, ...
Palavras no espaço vazio do tempo entre mim e as marcas que por último deixei...Sei lá quando.
Perdidas no tempo: as atitudes, a força, a ação, a metamorfose, a evolução, a vida. Revolução Então... Nem pensar!!!... Nem sentir!!! Nem fazer!!! Nem!!!
Agora sinto. Agora vejo. Agora percebo. Agora... Me odeio!!!
Mas agora?! Agora é tarde demais!
Tarde demais para aliviar a dor já sofrida.
Tarde demais para buscar as lágrimas escondidas.
Tarde demais para oferecer o ombro...ou qualquer parte do corpo como oferta de amor e carinho.
Tarde demais para matar a fome e avidez de sentidos, de existência, de conquista, de VIDA.
Tarde mais para compartilhar a evolução do talento latente.
Havia um “SERgredo”.
Não! Não era segredo, era apenas, pura verdade, cristalino e perfeito, forte e suave, sensível e intenso.
Ele brilhava em muitas cores para atrair meus olhos, mas a luz era tão intensa que os fechei.
Ele exalava notas de vários aromas para despertar os meus sentidos, mas fiquei petrificada e fria.
Ele entoava sons proféticos que se tornaram mantras, em melodia suave, constante,vibrante para alcançar minha mente, meu coração, minha alma, mas tornei-me coisa amorfa, cega, surda. Absurda!
“A beleza está nos olhos de quem vê”...mas só se você os abrir. E ela não é percebida por quem não a valorize, por quem não mereça seu encanto.
Tarde demais para só agora constatar.
Tarde demais para resgatar.
Tarde demais para... Chorar!!!
Mas é ainda bem cedo, em fim, para valorizar e confessar. Mesmo que seja vislumbrando o brilho reluzente e agora mais ofuscante e longínquo, sendo polido por uma silhueta verde esmeralda.
Agora só me resta contemplar de onde estou, atrás do muro que eu construí e tento desfazer para me libertar. E torcer para achar o caminho e recomeçar. Trilhar com toda alma, toda força, toda vontade. Metamorfosear! Revolucionar! Marcando bem as pegadas.Viver!
E talvez um dia ter pegadas ao lado das minhas, talvez um dia brilhar intensamente e ser polida por uma silhueta tão colorida e luminosa, tão perfumada, tão melodiosa, tão vibrante, tão viva, quanto a que ignorei.

Conquistar, absorver, matar. Esta é a sina de uma Femme Fatale.
“Ser ou não ser...?”
O que importa é aprender a VIVER.

03:51  
Blogger Derbi said...

Fins e recomeços, essa é a matéria da vida. Levo muito de ti, mais do que tu vai levar de mim, pois tu sempre foi maior!!!

Vai e Viva!!!!!!!!!!

09:15  
Blogger Isabel Batista said...

Esta linda poesia... é você, uma expressão lírica do momento, a liberdade, a esperança, a confiança, a paixão, a mistura com outro ser, a revelação da vida, o renascer.
Seja feliz, agora e sempre feliz.
Como você bem disse...Vai e Viva!!!!!!!!!!

13:58  

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