24 dezembro, 2005

Das coisas intangíveis

Existe um lugar onde todas as coisas são intangíveis. Você passa a mão sobre uma mesa e ela lhe escapa como se fosse de vento. O mesmo acontece com pessoas e outros objetos em movimento. parece que tudo existe em segundo plano, ou que você está em segundo plano.

Como que existindo em uma camada diferente das outras coisas, fica-se translúcido e tudo assim se parece e tudo assim perece. Não se pode ver além dos contornos, cores sem vida, cheiro de distância. Assim, simultaneamente existindo e inexistindo, somos apenas miragens, insólitas e inóspitas, intangíveis.

Há uma maresia no ar. Eu fiz a chuva. Como eu queria dobrar o espaço!!

Quero gosto de sal na boca, de sal e de algo mais que estou criando o hábito de sentir. Quero aquele cheiro que me refresca por dentro, e que todas as manhãs e algumas noites eu me acostumei a sentir. O cheiro é melhor do que todas as brisas leves depois da chuva sobre a grama, o gosto é o mais refinado deles.

Mas tenho que suportar todo o cheiro asséptico e doentio deste lugar, o gosto inexistente desse café e essas relações deterioradas.

E me contentar com as doses binárias de felicidade e aflição que ora ela se permite me recompensar.